quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Crianças Foie Gras

Isadora já está alfabetizada. Aprendeu a ler e escrever muito rápido. Em casa, a gente nem ensinou nada. Vez ou outra ela perguntava como se lia ou soletrava determinada palavra. Ficamos muito orgulhosos na última reunião da escola, em que descobrimos que apesar de ser a mais nova, Isadora fazia parte do grupo que estava completamente alfabetizado. Algumas crianças mais velhas ainda não sabiam ler. Ai, que orgulho.
A partir do ano que vem, Isadora estará em outra escola. Demoramos um pouco para achar uma escola que nos apresentasse uma proposta diferenciada. Buscamos por um ensino não bitolado em resultados mas preocupado com o crescimento da criança em todos os aspectos. Depois de algumas buscas, ficamos satisfeitos com nossa escolha. Espero que Isadora se adapte e também fique satisfeita.
Para entender um pouco do que eu e Marcelo não queremos para a Isadora, transcrevo aqui na íntegra um maravilhoso post do blog Ombudsmãe, da Tais Vinha, que apresenta uma visão bem realista do ensino que muitos pais buscam para seus filhos. Eu e Marcelo almejamos algo bem diferente, sim senhor!


"Vamos observar dois gansos. Um deles foi criado solto no campo. Não é muito grande, mas é ágil, rápido e tem a saudável musculatura de uma ave que cresceu nadando na lagoa, perseguindo insetos e correndo de um lado para outro com seu bando.
O outro é uma ave bem maior e vistosa. Porém se olharmos de perto percebemos que é meio disforme, estufada, desajeitada. Foi criada na gaiola para virar foie gras. Desde pequeno, seus cuidadores enfiaram-lhe comida goela abaixo para que crescesse rapidamente e virasse um excelente patê. Nunca correu pelo terreiro. Nunca teve oportunidade de explorar um formigueiro. Nunca se divertiu em capturar um peixinho na lagoa. Sua vida sempre foi receber ração e digeri-la rapidamente para conseguir suportar a próxima refeição.
Fiz essa analogia, depois de ouvir um relato de uma amiga sobre dois jovens que conheceu em um curso de inglês. Eles estudam em uma dessas escolas que despejam conteúdo sobre crianças e adolescentes, como se as preparassem para serem moídas. Diariamente eles recebem uma quantidade imensa de informação, que os obriga a dedicar muitas horas do dia sobre apostilas e livros. Semanalmente, fazem provas. A vida deles é sobreviver a elas. Digerem a informação até passar pela prova e depois partem para a próxima carga de informação. Como fazem os gansos foie gras com a comida.
Se analisarmos, muito desse conhecimento virará gordura. Isto é, não servirá para muita coisa na vida adulta. Será, literalmente, deletado. E o que restará disso é um jovem que cresceu sem exercitar os músculos da reflexão, do pensamento, da descoberta. São jovens que foram treinados, desde a mais tenra idade, a receber ao invés de ir atrás. A decorar ao invés de refletir. A sobreviver ao aprendizado ao invés de vivê-lo intensa e alegremente.
Pobres meninos e meninas foie gras. Podem até, um dia, conseguir voar para o sul. Mas terão que se esforçar muito, muito, muito para escapar do moedor
."

Se chegou até aqui é porque gostou. Sugiro ler da Tais Vinha os seguintes posts para reflexão:
Vamos falar de caligrafia.
Que escola você busca para seu filho?
Tarefas e provas abusivas. Seu filho é vítima?

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