domingo, 22 de maio de 2011

Mãe, você não tá lendo!

Renato adora ouvir estórias. Adora livros. Adora "ler". Eu adoro muito tudo isso.
À noite, antes de dormir, ele estica seus bracinhos, fica na ponta dos pés e pega um livro na estante do quarto dele. É uma gracinha. Mas nem toda noite eu tenho pique pra ler uma estorinha. Uma noite dessas, tentei enganá-lo. Abri o livro. E comecei a "ler". Parava em cada página, olhava as figuras, e falava qualquer coisa. Falava rápido como se fosse uma conversa e não uma leitura. Continuei meu teatro de leitura. E não é que o danadinho percebeu. Virou pra mim balançando a cabeça e falou:
- Mãe, você não tá lendo, não!

Me desarmou com tanta esperteza. Eu e a Isadora, que estava acompanhando a enganação (ai, que vergonha), nos olhamos com aquela cara de "não acredito". Como foi que ele percebeu? perguntei pra ela. Ela não soube dizer.
Acabei criando forçar pra ler de verdade porque o menino merecia, não é mesmo?

Minhas pernas são menores, mãe!

Moramos a mais ou menos 800 metros de um shopping. Na maioria das vezes, levamos as crianças de carro até lá para tomar sorvete, fazer alguma refeição ou comprar presentes. Algumas vezes, quando o tempo está bom, faço questão de levá-los a pé para caminhar um pouco, olhar as pessoas na rua e deixar o carro em casa. Acho importante que eles saibam atravessar uma avenida, olhar para os dois lados da rua, não ser tão dependente de carro para se locomoverem. Tudo isso é o tipo de coisa que só se aprende fazendo. Na ida, a Isadora não reclama de andar um pouco (que pra ela é andar muito), talvez porque esteja descansada ou porque no percurso há várias descidas ou pelo entusiasmo de fazer um passeio que termina em sorvete (ela adora sorvete). Mas na volta...Haja queixas...Pede colo, pede pra sentar e descansar, pede pra nunca mais ir a pé ao shopping e por aí vai. Toda vez é a mesma coisa. Como sou insistente e acho que eles devem andar a pé, eu não desisto dos passeios, mesmo sabendo que na volta vai ser a mesma ladainha da Isadora. O Renato não reclama. Ele adora andar e quando está cansado pegamos ele no colo (ele é mais leve e não tem repertório verbal pra queixas).
Ontem, estávamos assistindo TV e sem mais nem menos Isadora fala pra mim:
Isadora: Sabe, mãe, já sei porque eu fico tão cansada quando a gente volta a pé do shopping.
Eu: Ah, é. E por quê? (atônita pela conversa inusitada. Isadora sempre me surpreende. Aquela cabecinha está sempre matutando alguma coisa!)
Isadora: Porque minhas pernas são menores que as suas. A gente anda a mesma distância mas como minhas pernas são menores, eu canso logo.
Eu: Nossa, Isadora. Você está certa. É por isso mesmo! (É ou não é uma menina prodígio?)

Renato de óculos

Estou devendo um post contando como descobrimos que o Renato precisava usar óculos.
Foi muito rápido. Um olhar atento dos pais em uma hora muito específica do dia: assistindo TV. Era uma quarta à noite de janeiro. Renato vidrado na telinha. Marcelo nota que o olho esquerdo do Renato estava tortinho pra dentro. Que estranho, Marcelo comentou comigo. Não deve ser nada, disse ele. Na manhã seguinte, assistindo a bendita, eu observo que agora era o olho direito que estava tortinho. Alerta ligado. Alarmada, comento com o Marcelo que disse para observarmos. Sexta de manhã, desespero total. Os dois olhinhos completamente desviados. Meu Deus, fiquei desesperada: Meu filho é vesgo! Quase chorei. Mas sendo prática, tomo logo as devidas providências. Ligo para o pai-médico, lógico.
Eu: (em pânico, com dor de barriga e querendo chorar) Amor, você não vai acreditar. O RENATO É VESGO. E agora?
Marcelo: O que é isso, amor? Calma.Vamos continuar observando.
Eu: Observar??? Observar o que mais?? Vou ligar para o pediatra agora.
Marcelo: Tá bom, vai. Liga. E se for estrábico (vesgo é ofensivo), a gente lida bem com isso. Existem coisas mais difíceis do que estrabismo. (ele ainda vai me matar com esse tipo de conclusão.)
Ligo para o pediatra.
Eu: Doutor, meu filho está com os olhos tortinhos. Está vesgo, Doutor!
Doutor: Leva ele no oftalmologista imediatamente. Não vamos deixar isso pra depois. Marquei consulta com o oftalmo. Após o primeiro exame, o diagnóstico: não é estrabismo, é hipermetropia. Se não for corrigida com o uso de óculos ele pode ficar estrábico, sim. Ainda bem que descobrimos logo no início. Em menos de duas semanas após aquela simples observação do olhinho torto, meu pequeno Tato estava de óculos. Foi estranho no começo. Ele demorou muito pouco para se adaptar. Mas está aí, usando seu óculos, o que lhe dá um ar sério e uma certa exclusividade. Ele é a única criança da escola e de nosso meio social e familiar que usa óculos.
E, corujices à parte, ele fica muito charmoso. Parece uma miniatura do Clark Kent!

domingo, 8 de maio de 2011

O que existe por trás da porta

Isadora entrou no primeiro ano praticamente alfabetizada. Já lia e tentava escrever algumas palavrinhas. Na última sexta, ela trouxe na mochila da escola, cinco pastas das lições feitas em classe e em casa: português, traçado, projeto, inglês e matemática. Sobre as lições de português, matemática e inglês não há muito a comentar. O objetivo das lições de traçado é desenvolver a coordenação motora fina (uh!) e treinar o movimento correto dos numerais. Acho que funcionou, porque até bem pouco tempo atrás, o 5 ainda saía invertido. As lições do projeto envolvem assuntos ligados ao tema escolhido para o período. O projeto do momento é a história da escrita, das paredes ao computador. Muito interessante para crianças tão novinhas. Imagina descobrir que os homens das cavernas escreviam símbolos nas paredes? E aprender sobre o alfabeto hieroglífico?
Aproveitando um momento de sossego aqui em casa, li todas as lições atentamente para avaliar a evolução da Isadora. No início, ela só escrevia com letra de forma. Agora, já arrisca a tal letra cursiva, que para ela era um mundo à parte. Ela morria de vontade de começar a escrever com letra cursiva. E a danada capricha na escrita. Corujices à parte, Isadora está se saindo muito bem em todas as matérias.
De todas as lições, a que mais me chamou a atenção foi a do dia 26/04. Começava com a letra da música "A casa". A professora deve ter cantado junto com as crianças. A primeira parte da lição era para desenhar uma casa para cada uma das duas portas ilustradas na folha. Isadora fez uma casa completa, com janelas, telhado e uma pequena trilha em direção à porta. Na outra, ela desenhou uma casa sem janela, sem telhado e sem trilha. A segunda parte da lição era para escolher uma das casas e escrever o que existe por trás da porta. Transcrevo aqui o que a Isadora imaginou, escrito em letras maiúsculas:
"EU ENMAJINO QUETEN EU E MINHA MAE CON O MEU PAI E O MEU IRMÃO E UMA ISCADA QUE TEN UNSOTON QUE TEN TODAS ASCOSA."

Minha interpretação do que Isadora imaginou é que, para ela, os pais, o irmão e todas as coisas que ela pode conceber na sua inocência são seu mundo e nada mais.

Fica aí para reflexão: Para você, o que existe por trás da porta?