quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Hã, hã, hum, hum

O título deste post é o que o Renato (agora Tato para os íntimos) costuma expressar em protesto, alegria, exaltação ou qualquer outra emoção. Sim, ele fala o essencial e até arrisca frases sem verbos mas quando precisa de algo mais complexo a ser dito vai no hã, hã, hum, hum, não, não, esse, esse..duTato. Vou exemplificar o uso da frase mais falada pelo Tato. Hoje à noite, fui escovar os dentes dele. Na minha afobação, peguei a escova dele e coloquei a pasta de dente da Isadora (para os não-entendidos: quem não sabe cuspir usa pasta sem flúor, quem sabe usa com). Não é que o danado do menino estava de olho e viu meu engano. E começou a falar o tal do hã, hã, não, não, esse, esse, duTato apontando para a pasta de dente dele. Eu até disse: "Deixa Tato, vai ser essa só hoje". Quem disse que o moleque abria a boca. Enquanto não troquei a bendita pasta de dente, ele não sossegou!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mãe, não é justo!

Estou em Belém para a formatura da minha irmã mais nova. Alguns dias antes de viajar comecei a preparar a Isadora falando sobre o motivo da viagem, quantos dias passaria fora, quem cuidaria de tudo na minha ausência, etc e tal. Na véspera da viagem, estava fazendo os dois dormirem quando Isadora disparou:
- Mãe, por que você tem que viajar? Você precisa mesmo ir? (ela parecia triste com a situação)
- Sim, filha. É a formatura da Tia Suzelle. Não vai ter outra chance de ir porque acontece uma vez na vida (a não ser que ela queira fazer outra faculdade, claro).

Ela ficou pensativa e nada satisfeita com a resposta. Continuou:
- Poxa, mãe, eu também queria ir pra formatura da Tia Suzelle. E por que eu não posso ir?
- Ah, Isadora. É uma festa à noite e criança não vai. Todos os adultos vão pra festa e não teria ninguém pra ficar com você.

Pronto. Achei que tinha sido uma boa explicação e mudaríamos o rumo da prosa. Que nada! Isadora ainda não estava convencida e argumentou:
- Mas, mãe, se o papai fosse junto e ele poderia ficar comigo sem ir pra festa. Que tal?
- Mas o papai está de plantão e não pode sair da cidade.

Não foi o suficiente. Isadora não se rendia e ainda tinha munição?
- Mas peraí, mãe. Quando é a festa?
- É sábado. Por quê?
- Se a festa é sábado, por que você vai sexta e só volta na segunda? Por que você não volta no domingo?
(Ela me pegou no contrapé e fiquei um tempo pensando de onde vem tanta esperteza.)
- Ah, Isadora, vou ficar um tempo com minha mãe e minhas irmãs, visitar alguns amigos e só depois venho embora.

Isadora percebeu que não poderia viajar comigo mas não antes de expressar a mais batida indignação das crianças:
- Mãe, não é justo! Não é justo você viajar e não levar a gente!

Ela me desarmou e eu não tinha mais nada a dizer. Ficamos quietas um pouco. Em seguida ela disse que queria tomar café da manhã comigo antes de eu sair de viagem e caiu em sono profundo.
Isadora é ou não uma fofa muito esperta??

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mãe, você não trabalha?

Esse post começou a ser escrito em outubro de 2009. Pensei em finalizá-lo agora porque eu estive me questionando se trabalhar fora não é melhor pra todo mundo aqui em casa. Ando meio louca de tanto ficar só pensando em coisas domésticas. Assunto para outros posts, claro. Deixa eu terminar esse primeiro)
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Na volta da escola, eu e Isadora sempre jogamos uma conversinha fora do tipo como foi seu dia, o que você fez hoje, como foi na escola... Dia desses, já na garagem parando o carro ela dispara a pergunta que me é fatal:
Isadora - Mãe, você não trabalha? Eu - Hã??? Cuma?? (como diria Didi Mocó)
Ainda bem que já tinha parado o carro, senão bateria no primeiro poste de tão baratinada. Não é fácil lidar com isso rotineiramente quando alguém pergunta o que faço, agora vem minha filha e me questiona. É irônico mesmo. Passada a surpresa, agi na defensiva e tasquei:
Eu - Claro que trabalho, em casa! Quem leva e busca você na escola, arruma sua mochila, cuida da agenda e tudo mais? Isadora - Não, mãe. Você não entendeu. Eu queria era saber com que você trabalhava antes de ficar em casa. (Tá vendo. Nem as crianças acham que ser dona de casa é trabalho) Eu - Ah tá. Eu trabalhava como engenheira numa empresa de celulares. (Tadinha da minha filha, ouviu um discurso que estava engasgado por quase 2 anos.)

Pelo menos consegui frear minha língua antes de citar mais algumas das minhas atividades: tomar café da manhã com os filhos, levar pra brincar na pracinha, ir até o banheiro quando gritam "acabei", ser uma das poucas mães que participa das atividades da escola no horário comercial, ficar de pijama até a hora de levar os filhos na escola, acordar um pouquinho mais tarde sem correrias, pensar nas refeições com mais cuidado, fazer feira 3 vezes na semana, etc..
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Quase um ano depois dessa conversa com a Isadora, já não fico tão nervosa quando o assunto é sobre o que eu faço. Hoje assumo sem problemas minha situação "do lar". Até assinei uma declaração para a Receita Federal assumindo que é essa a minha profissão atual. Claro que chorei na hora de assinar. Não foi fácil assumir mas cheguei lá. Estou feliz, tenho meu altos e baixos, meus momentos de total loucura materna mas acho que estou fazendo um bom trabalho.

domingo, 12 de setembro de 2010

Hora certa de morrer

Brincando de mamãe-filhinha na escola, Isadora descobriu que os pais podem morrer um dia. O negócio é que nenhuma das amigas quer ser a mãe (por que será?). Todas querem ser filhinhas. Querem ser cuidadas, mimadas e sem as broncas reais (porque no mundo imaginário as mães não dão bronca nunca). Até perguntei pra Isadora porque ela não queria ser mamãe. Ela respondeu que não sabe ser mãe, não sabe cuidar de filho (essa é boa). Como solução para continuar a brincadeira, alguém sugeriu que bastava fingir que a mãe morreu (pronto, mataram a mãe pra sanar o problema). Problema resolvido na brincadeira porque na vida real da Isadora surgiu um bem grande: ela soube que os pais podem morrer e de verdade.
Ela veio toda chorosa dizendo que não queria ficar sozinha sem o papai nem a mamãe. Não queria "nunquinha" que o papai e a mamãe dela morressem. E questionou porque a gente morre (ainda bem que ainda não perguntou pra onde se vai depois que morre). Expliquei que é a ordem natural da vida: as pessoas nascem, crescem e morrem (por razões óbvias pulei a parte do "se reproduzem"). Falei também que todo mundo sabe que vai morrer um dia mas não fica pensando muito nisso, não. Vamos vivendo a vida sem pensar na morte. Não acho que ela entendeu muito da conversa nem se convenceu dessa tal ordem natural das coisas. Virou pra mim com uma carinha triste e disse:
- Mãe, acho que deveria ter hora certa para os pais morrerem. (olha só como funciona a cabeça dessa menina!)
- Ah, é? (uma pergunta só indica que eu não sei mesmo o que dizer)
- Sim, e a hora certa para os pais morrerem é lá pelos 100 anos. Bem velhinhos. Quem nem o Nono! (o bisavô Ranieri, que faleceu bem velhinho há pouco mais de 2 anos. Homem notável o Nono!)

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Curioso que depois dessa conversa, Isadora nunca mais falou de morte. Acho que ela queria mesmo é saber dos mortos da família. Nesse mesmo bate-papo, falamos do meu pai e da minha avó materna que já se foram também.
Fiquei pensando porque na cabecinha da Isadora a tal hora certa para os pais morrerem estava relacionada com o Nono. Talvez as recordações que ela tenha dele envolvem os filhos reunidos nos almoços, filhos crescidos, independentes, unidos. Ah, e os netos e a única bisneta até então. Todo mundo seguindo a vida e mantendo bem fortes os laços familiares. E o Nono lá, orgulhoso e, até quando pode, sempre ativo participando de tudo. Não sei se é tudo isso que Isadora quis dizer mas é a minha visão agora da hora certa de morrer!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O quarto das crianças

Isadora e Renato dormem no mesmo quarto há alguns meses. Renato tinha um quartinho só pra ele mas era totalmente inútil. Ele não dormia muito no berço e passava parte da noite comigo na cama. Achei melhor desmontar o berço, transformar o quarto em brinquedoteca e colocar uma minicama pra ele no quarto da Isadora. Tudo bem que o quarto é cor de rosa, com borboletas e bailarinas na parede. Pelo menos a roupa de cama é azul com desenhos de menino e há algumas almofadas de leão e elefante pra indicar que ali dorme um garotinho. Mas Renato não liga nada pra isso. Para completar a decoração do quarto misto, há bonecas, carrinhos de bonecas, cadeira de alimentação de bonecas, roupas de boneca e tudo o que se pode imaginar de bonecas. Sim, Isadora domina o quarto. Até porque o Renato, como já mencionei, não dá muita bola pra nada ainda. Ele sabe que tem a cama dele e pronto. Pra ele é o suficiente.
Isadora está muito feliz em dividir o quarto com o irmão. Não se incomoda nada quando ele chora de madrugada nem se aborrece quando ele se deita em cima dela pra fazer farra. Eles curtem a companhia um do outro naquele espaço. Isso é muito curioso porque em outros ambientes da casa eles quase sempre estão disputando algo. Até parece que desenvolveram um código para que a parte neutra da casa fosse o quarto deles.
Isadora não dá trabalho nenhum pra dormir e lá pelas 9 da noite já está em sono profundo. Antes disso, todos se despedem dela dando beijinhos, inclusive o Renato. Eu falo pra ele dizer boa-noite pra irmã, ele vai lá, dá beijinho e faz "tchau". Uma graça.
Renato não dorme tão facilmente porque ainda não aprendeu como fazer isso. As previsões dizem que vai demorar muito pra que ele aprenda. Paciência. Ele adormece tarde, geralmente deitado comigo. Eu, encolhida naquela miniatura de cama. Mas é tão gostoso ficar lá, dormindo com ele fazendo carinho no meu rosto. E ainda dá pra ouvir a respiração da Isadora, adormecida como a Bela. Depois de uma hora ou duas, me levanto da cama do Renato, checo os cobertores e só saio do quarto depois de admirar uma das mais belas cenas da minha vida e que, para minha felicidade, se repete todos os dias: meus filhos dormindo seguros, saudáveis, felizes.